quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


Passaram tantas datas importantes para nós desde a última vez sem que te dissesse uma só palavra…porque já nem as palavras afogam a mágoa…mas hoje, no dia em que perdemos o nosso querido amigo, que foi como teu pai…no dia em que com ele foi toda a nossa história…as palavras parecem ser, ainda, um lenitivo para a dor…
Tu levaste contigo a minha história e ele leva consigo a nossa história…
Se tu fazes parte da minha identidade, ele também faz…
Foi a ele que tiraste as últimas fotos e agora chegou o momento de te reencontrar na eternidade…

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013


Meu amor,

Fazes hoje 53 anos e eu perdi a conta dos meus...mandas-me reinventar uma nova vida para subsistir ao tempo e à dor da tua ausência...mas nela apenas encontro a permanente resistência da memória contra o esquecimento...a anestesia contra a dor...o tempo presente contra a eternidade, porque nela estás...
Estás nessa eternidade com Deus e eu com Deus nesta efemeridade. Nos reencontraremos!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Se o tempo falasse

E o tempo não fala,
porque se falasse,
falava mais alto que os homens.
O tempo se cala
e deixa os homens falarem…
ele guarda os segredos e deixa os homens se esquecerem…
dizem que o tempo apaga mas ele diz que aviva…
dizem que o tempo é remédio mas ele diz que não cura…
dizem que o tempo foge mas ele diz que está sempre presente, ao nosso lado, lembrando-nos que foram os homens que inventaram o ontem e o amanhã,
ele só fala do instante…
dizem que não há tempo mas ele diz que sem ele nada podemos fazer…
é necessário tempo para amar e ser amado…
e tu tinhas!
É necessário tempo para escrever
e tu escrevias!
É necessário tempo para olhar
e tu olhavas!
Dizem que há tempo certo e há…

Tino, que tempo é esse que não volta?
Mas tu voltas, voltas sempre…
Mas sabes que a solidão é intemporal porque é eterna no tempo da terra, e é muito dura!


5 de Junho de 2012

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

30 de Janeiro de 2012, 24 anos de casados

Tino, meu amor:


O nosso aniversário passou. Não te escrevi uma palavra não porque me esquecesse mas porque a lembrança era tão dolorosa, é cada vez mais dolorosa, que nem consegui escrever palavra...só tu me compreendias no mais profundo de mim mesma e hoje sem ti a vida é o arrastar dos dias rumo à eternidade, é um eterno deserto onde de todos os seres nenhum há comparável a ti e a minha solidão é apenas a tua ausência, a ausência da compreensão de mim mesma.
Hoje são as tuas palavras que deixo, umas que escreveste há muito e só há poucos dias descobri...elas me deixam sem vontade de viver porque tu não estás para as pronunciares...Deus poderia fazer-me a benesse de me dar alguém semelhante a ti, que vivias as palavras que pronunciavas, que amavas sem egoísmo...as minhas palavras eram as tuas e as tuas eram minhas...hoje nas minhas palavras procuro escutar as tuas...mas as palavras relembradas não são suficientemente fortes para atenuar a minha dor, elas têm a tua força mas não a minha...mas vou chegar lá, vou chegar à força das tuas palavras quando a sua lembrança já não me magoar, quando as minhas já forem tão fracas que não tenham nem a força da mágoa...e quando Deus me der alguém semelhante a ti...

Tua mulher que te ama,

Benvinda


Ao fim da tarde de ontem sentei-me para ler. Um sol de Junho descia serra abaixo em direcção ao mar lá longe. A serra é onde o meu olhar se perde, cheia de majestade e personalidade. É aqui, no sítio do meu refúgio de leitura e de leve meditação que a vejo em todo o seu esplendor. De súbito ouvem-se chocalhos e campainhas e o prado diante de mim enche-se de ovelhas numa melodia “celestial”. E depois medito na Bíblia e na ovelha perdida e lembro-me da profecia proferida por Isaías e na ovelha desgarrada...e quando penso na unidade natural do rebanho e na dificuldade de a ovelha se tresmalhar...lembro tempos antigos em que o rebanho me seguia e compreendia a minha voz e na dificuldade que tive ao separar-me dele...
Deus escolheu-nos para sermos um rebanho e determinou que tivéssemos pastores para nos dirigirmos bem e nos alimentarmos bem da Palavra que é a Sua! “Au fil des temps” o mundo encheu-se de pastores e subsequentemente de religiões que mais não fizeram que tresmalhar o rebanho. O que se vê hoje em dia são, em geral, seguidores de religiões – ovelhas errantes que tendo pastor estão sem pastor – e não seguidores de Cristo. Cultivou-se a ideia de um evangelho obrigacional que para além de impor regras impõe sobretudo grandes contribuições. Desvirtuou-se assim o Evangelho que é de Cristo para se criar um novo evangelho se possível sem Cristo mas com muita religião. O religioso é mais fácil de manipular do que aquele que deposita a sua fé no Evangelho de Cristo e sabe porquê! Ora aquele que deposita a sua fé exclusivamente no facto de Jesus ter morrido em seu lugar é esse que está pronto a vencer o mundo e sabe fazer a diferença entre fé e religião!

Florentino Lavrador Francisco

2 de Janeiro de 2012, 52 anos

Dedica-te a tua cunhada Ana Caldeira:


É impossível lembrarmo-nos dele sem lembrarmos automaticamente do seu sorriso, tão espontâneo e sincero, tão contagiante, tão verdadeiro! Recordo-o com tantas saudades, tantas brincadeiras, tanta risada que partilhámos! Às vezes ainda tenho a tendência de me meter com pessoas que vão na rua quando vou de carro, a dizer simplesmente parvoíces, pois era algo que fizemos tantos anos quando andavamos convosco de carro e ele ria-se perdidamente! Foi com ele que aprendi tanto sobre Deus...foram tantos e tão bons momentos que passámos juntos!...Foi com ele que ganhei o gosto pela fotografia, foi com ele que fui um dia conhecer a Sortelha, foi...tanta coisa tão boa que recordo com tantas saudades!...Tantos momentos de alegria que é difícil enumerá-los todos!

JAMAIS O ESQUECEREMOS!...

"Quando Deus a um homem deseja treinar
Deleitar, capacitar;
Quando Deus a um homem deseja moldar
Para o que há de mais nobre alcançar;
Quando de todo o coração anseia
Torná-lo tão grande e destemido
Que a todo o mundo deixe estarrecido,
Observa seus métodos, observa seus modos!
Como é implacável ao aperfeiçoar
Aquele a quem concede a alta distinção de chamar;
Como o amassa e o fere
E com que poderosos golpes o transforma
Dando ao barro forma e feição
De que só Ele tem compreensão
Enquanto o torturado coração
De mãos erguidas lamenta...
Contudo, Deus verga, mas jamais quebra
Quando o bem do homem Ele intenta;
Como usa a quem lhe apraz
E com que imenso poder o conduz.
Com cada acto o induz
A seu esplendor reflectir.

DEUS SABE O QUE FAZ!"

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

É natal e África fala de ti…
As flores abrem-se para ti para que as fotografes como sempre fazias…
As aves cantam para ti porque gostavas de as ouvir….
Os pobres chamam por ti…
Lá longe, no teu país, chove sobre ti…
Se eu fosse a terra que te cobre me alegraria…

Deixaste-me o sol, as flores, as aves…
Mas nada disso se compara ao teu amor perdido para sempre sobre a terra…
O brilho do raio de sol não faz brotar a flor da alegria…
O perfume da flor perdeu o seu encanto …
O canto da ave se apaga levemente…

Apenas os pobres continuam a sorrir como se a vida fosse igual à morte…
Como se o sorriso tivesse o poder de fazer esquecer a desgraça…
São crianças,
As crianças que amavas e ajudavas…
Mas para mim o seu sorriso é a dor da tua ausência!

De repente, vejo que chamam por mim…
Mas que sou eu sem ti?
Deixei-as como a sombra que perdi…
E continuei o caminho sem elas e sem ti…
Nem uma palavra saiu de minha boca,
Como se o sol ainda não tivesse nascido na escura noite
E avancei solitariamente no indizível sofrimento…

O sino da vida deixou de tocar…
Mas no meu coração há badaladas de dor que não consigo misturar com a dor dos outros…
Porque a minha é ainda tão forte que só deixa ouvir o som da ausência do amor…

domingo, 18 de dezembro de 2011

Nascer em Belem-Efrata

«O Deus eterno diz: Belém –Efrata, você é uma das menores cidades de Judá, mas do seu meio farei sair aquele que será o rei de Israel» (Bíblia Sagrada)

Belem-Efrata, a menor
De onde saiu o maior
Voltar a nascer em Belem-Efrata
É voltar a amar a vida
Como um dom de Deus

Jesus nasceu em Belem-Efrata
Deus feito homem
Trazendo esperança ao mundo
Ambos nascemos em Belem-Efrata com esse menino filho de carpinteiro,
Tão humilde quanto a cidade menor que o viu nascer
Para nos ensinar o caminho da humidade mas também da glória…
E com Ele nos identificámos ainda erámos meninos
Jovens nos conhecemos
Adultos nos amámos

Mas fiquei sozinha com o homem divino de Belem-Efrata,
E tu foste para junto do Deus humanizado
Nada nos separa!

Mas na morte do teu corpo,
Há o vazio da tua presença,
Na tua ausência o sol aquece mas não brilha,
A chuva humedece mas não regenera,
E o tempo passa deixando marcas de sofrimento e solidão…


Mas, se a menor se tornou a maior,
E o menino Deus,
É possível renascer em Belem-Efrata!

19 de Dezembro de 2011