Mantenho-me na existência
E o meu espírito paira sobre a terra
A minha alma procura desesperadamente em cada ser
Uma reminiscência de ti
Um prolongamento de nós
A minha identidade perdida.
Jamais alguém como tu!
Jamais nós!
Tu estás no céu
Junto de Deus
Deixaste a terra.
A lembrança é dolorosa como um cravo espetado na carne
O coração dilacerado pena
E a alma parece libertar-se do corpo.
Mas o corpo mantém-se na existência
Apaziguando de vez em quando
A dor da alma.
E o coração continua incólume
Perseguindo seus ideais
Como se o sonho fosse a única forma de existência possível
A única alternativa à dor
A única lembrança que não dói
O único futuro possível …
Sim, existo para além de ti
Sou !
Estou!
Fico!
Mas ficar na existência não chega,
Sonhar não chega,
É preciso viver normalmente
Como se não tivesses existido
Como se não tivesses partido
Como se não tivesses sofrido
Como se eu não sofresse ainda e sempre!
Mas mesmo que a lembrança se vá,
Mesmo que o sonho não seja eterno
Mesmo que o espírito encontre o corpo
E a alma se pouse na existência
Para nela recomeçar a viver normalmente
A realidade sem ti, sem nós, e eu sem mim,
É ainda o mais duro de enfrentar…
Tenho, então, que ser outra
Outra pessoa,
Outro ser
Como os outros
Mas sem eles…
Como ser então eu sem ti
Sem os outros
Eu e só eu?
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