Chove torrencialmente em Abidjan
Neste adeus que pode ser o último
O céu vestiu-se de cinzento
Como no dia da tua partida
Por aqui a guerra passou como um vento do deserto
Deixando lembranças tristes e dolorosas
Que o tempo vai conseguindo lentamente apagar...
Mas as outras, as tuas, continuam sempre vivas e incólumes ao tempo,
Que vai arrastando a vida como uma sombra...
O amor se foi para sempre irreversivelmente
Foi contigo, foi em ti
E em mim apenas sobra dor e saudade
Foi na ternura, no olhar, no ser, no estar
E ficou a vaga reminiscência da vida que teima em não me largar
Mas como ser, como estar, como olhar, como amar
Sem ti?
Porque depois de ti apenas resta a ilusão,
E a lucidez da ilusão a dolorosa experiência do quotidiano,
Porque partida entre o tudo e nada,
Escolho o nada como se a vida que uma vez me deu tudo,
Me propusesse agora só o nada…
E o nada aloja-se nesta recôndita parte de mim,
Inacessível ao mundo
Porque se nela alguém penetra, o teu lugar vazio parece-lhe demasiado grande,
E a fuga inevitável…
E a alma torna-se incolor,
Suas paixões meras quimeras…
Minha voz monocórdica,
A dor tão forte
Sem esperança de alívio…
Até a razão desconhece esta perseguição do impossível…
A do renascimento, não no calor do teu corpo,
Mas no frio da indiferença,
No cansaço e no medo,
Na desilusão e na frustração,
Apenas o sonho em vez do desejo…
Apenas o afecto em vez do amor…
Apenas a realidade em vez da ilusão…
Apenas a recordação em vez da saudade…
Apenas outrem em vez da solidão…