domingo, 26 de junho de 2011

Do outro lado do lago


Chove torrencialmente em Abidjan

Neste adeus que pode ser o último

O céu vestiu-se de cinzento

Como no dia da tua partida


Por aqui a guerra passou como um vento do deserto

Deixando lembranças tristes e dolorosas

Que o tempo vai conseguindo lentamente apagar...

Mas as outras, as tuas, continuam sempre vivas e incólumes ao tempo,

Que vai arrastando a vida como uma sombra...


O amor se foi para sempre irreversivelmente

Foi contigo, foi em ti

E em mim apenas sobra dor e saudade

Foi na ternura, no olhar, no ser, no estar

E ficou a vaga reminiscência da vida que teima em não me largar

Mas como ser, como estar, como olhar, como amar

Sem ti?


Porque depois de ti apenas resta a ilusão,

E a lucidez da ilusão a dolorosa experiência do quotidiano,

Porque partida entre o tudo e nada,

Escolho o nada como se a vida que uma vez me deu tudo,

Me propusesse agora só o nada…


E o nada aloja-se nesta recôndita parte de mim,

Inacessível ao mundo

Porque se nela alguém penetra, o teu lugar vazio parece-lhe demasiado grande,

E a fuga inevitável…


E a alma torna-se incolor,

Suas paixões meras quimeras…

Minha voz monocórdica,

A dor tão forte

Sem esperança de alívio…

Até a razão desconhece esta perseguição do impossível…

A do renascimento, não no calor do teu corpo,

Mas no frio da indiferença,

No cansaço e no medo,

Na desilusão e na frustração,

Apenas o sonho em vez do desejo…

Apenas o afecto em vez do amor…

Apenas a realidade em vez da ilusão…

Apenas a recordação em vez da saudade…

Apenas outrem em vez da solidão…

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